Como sabemos, a água presente no equipamento odontológico tem um papel muito importante nos procedimentos realizados pelo dentista, seja para limpeza da cavidade bucal, enxague da boca do paciente, irrigação direta por meio da alta e baixa rotação e também o resfriamento dos equipamentos e dentes do paciente.
Apesar de muitas vezes estar aparentemente limpa e cristalina, ela pode ser uma grande fonte de contaminação e causar sérios problemas de saúde ao paciente, chegando inclusive, em casos extremos, à morte.
Por isso, hoje falaremos dos cuidados necessários e como prevenir essas contaminações.
O risco de contaminação
Durante os procedimentos rotineiros de um atendimento, a água utilizada pode ser ingerida acidentalmente pelo paciente e/ou entrar em contato com a mucosa e dentes, tendo acesso direto ao tecido conjuntivo com possibilidade de absorção e alcance do sistema circulatório. Por isso, caso esteja contaminada, apresenta grandes riscos de infecções por ser veículo de transmissão de inúmeros microrganismos, tais como bactérias (Escherichia coli, Leptospira, Legionella spp., Salmonella typhi), vírus (enterovirus, hepatite A, Hepatite E, Rotavírus), protozoários (Cryptosporidium hominis/ parvum, Entamoeba histolytica, Giardia intestinalis)e helminto (Schistosoma spp).
Isso ocorre por que o equipamento odontológico possui tubulações por onde a água passa, denominadas linhas de água. Essas tubulações são compostas por longas superfícies internas plásticas (com imperfeições microscópicas), com pouca luminosidade e que constantemente acumulam água parada por um longo período de tempo. Estas características configuram um ambiente favorável para o estabelecimento de microrganismos já presentes na água e consequentemente formação das películas de biofilme, que contaminam a água e chegam até o paciente.
Em 2012, na Itália, uma senhora de 82 anos, sem doenças pré-existentes, foi internada na UTI de um hospital com febres e problemas respiratórios – e posteriormente veio a óbito – após um atendimento odontológico. Sua morte foi atribuída à pneumonia (Legionella spp.). Ao longo da investigação, descobriu-se – por três métodos microbiológicos – que a fonte de infecção foi a água do equipamento do seu dentista.
Mais recentemente, em 2016, nos estados da Geórgia e Califórnia (EUA), foram reportados mais 3 casos de crianças de 3 a 11 anos, que foram hospitalizadas com infecção por Mycobacterium abscessus., causada pela água contaminada do equipamento odontológico.
Cuidados e prevenção
Para uso no equipo a água mais indicada é a destilada ou esterilizada, principalmente quando falamos de procedimentos cirúrgicos. No Brasil, a qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade seguem normas definidas pelo Ministério da Saúde. O teor de cloro mínimo é de 0,5 mg/L.
A água empregada nos procedimentos odontológicos não cirúrgicos segue os indicadores desta norma. Deste modo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)* faz recomendação para inclusão de um suprimento adicional de cloro – como forma de controle e minimização de contaminação – água utilizada no reservatório do equipamento odontológico. A proporção é de 0,3 ml de hipoclorito de sódio a 1% para 500ml de água.
Boas práticas
- Após cada atendimento clínico, acione as peças de mão por 20 segundos, de modo a fazer fluir a água nos equipamentos. Este procedimento também deve ser feito no início e no final do dia. Tem como objetivo expulsar materiais contaminantes provenientes da mucosa bucal que porventura entraram nas tubulações de ar, água e nas próprias turbinas.
- Esterilize as peças de mão. Esta medida é essencial para anular a contaminação cruzada propiciada por microrganismos presentes em seu interior ou superfície.
- Realize a drenagem diária das linhas de água e manutenção a seco durante à noite e nos fins de semana. Isso porque o ambiente úmido propicia a manutenção e o crescimento microbiano no interior das tubulações.
- Estabeleça uma rotina de limpeza do reservatório de água, com periodicidade ao menos mensal, com água e sabão, assim como desinfecção com hipoclorito de sódio a 1%, por 30 minutos. Em seguida, promova o enxágue abundante.