Ergonomia na Odontologia

Já falamos anteriormente aqui em nosso blog sobre os riscos ocupacionais em seu consultório, entre eles o risco ergonômico. Por isso, hoje, falaremos mais sobre a ergonomia em odontologia e como ela é fundamental para a saúde cirurgião dentista.

O que é ergonomia?

A Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem.

Se analisarmos a construção da palavra, etimologicamente, ergonomia deriva dos termos gregos: érgon (trabalhos) e nomos (leis e regras), logo, pode ser definida como as leis que regem o trabalho. Segundo o Dicionário Houaiss, é “o estudo científico das relações entre homem e máquina, visando a uma segurança e eficiência ideais no modo como um e outro interagem.” Ou, é a “otimização das condições de trabalho humano, por meio de métodos da tecnologia e desenho industrial”

Ergonomia ao longo da história

O termo foi usado pela primeira vez em 1857, pelo polonês Wojciech Jastrzebowski, que publicou o artigo “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Contudo, a Ergonomia só adquiriu status de uma disciplina mais formalizada, a partir do início da década de 1950, com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra. No Brasil, a prática passou a ganhar destaque a partir de 1943, com o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, que aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e, posteriormente, com a Portaria MTB nº 3.214, de 08 de junho de 1978, que aprovou as Normas Regulamentadoras (NR) do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, além de outras legislações correlatas à matéria. Dentre essas Normas, tem-se a NR-17, que trata da Ergonomia.

Ergonomia na odontologia

O dentista é um dos profissionais mais suscetíveis a doenças relacionadas ao exercício de sua atividade laboral. A utilização inadequada de equipamentos e a falta de postura na realização de algumas tarefas cotidianas podem ter impacto direto na saúde do profissional. Estima-se que 85% dos profissionais da área sentem ou já sentiram algum tipo de dor, principalmente nos ombros, região cervical e região lombar.

Por ser uma profissão que exige a interação com diversos equipamentos, móveis, instrumentais e com o próprio ambiente, pode ser muito complexo criar uma combinação adequada. A atividade em si exige rotação de tronco, flexão de cabeça e força na musculatura de diversas regiões do corpo. Além disso, os dentistas e demais profissionais da área sofrem com as limitações naturais do próprio trabalho, como campo de visão limitado, necessidade de alcançar locais difíceis, e ainda com a força e pressão que é necessário empregar no próprio instrumental.

 Por isso, o objetivo da ergonomia no consultório odontológico é aumentar, de forma significativa, a produtividade do profissional, sempre focando na manutenção da saúde postural e, também, da qualidade de vida do dentista. O local de trabalho pode ser, além de produtivo e saudável, também agradável e prazeroso para trabalhar.

Boas práticas ergonómicas em odontologia

A mudança de alguns hábitos, e a adoção de medidas simples, podem ser de extrema valia para a saúde do dentista e a melhora no desenvolvimento de suas atividades.

Ajuste do mocho

A altura do mocho ou assento deve permitir que um profissional, com variação de estatura de 1,50 m a 1,80 m, possa sentar-se corretamente, isto é, com o fêmur paralelo ao solo. Isso permitirá que a circulação de retorno (hemodinâmica) se processe naturalmente, sem risco de compressão das safenas. O encosto do mocho também deve proporcionar ajustes de altura e profundidade. Hoje em dia, existem assento em forma de sela de cavalo, o que força o equilíbrio e a melhoria da postura do dentista

Posicionamento ergonômico ideal

De acordo com as posições consagradas em ergonomia, o ideal é que o dentista ocupe a posição de 9h e o auxiliar a de 3h. Dessa maneira é possível trabalhar com visão direta, tanto da mandíbula como da maxila. Outro ponto importante é que a perna esquerda do dentista deve estar posicionada sob o encosto da cadeira, e a direita ao lado do braço direito do equipamento. No caso de o profissional ser canhoto, a posição é invertida com a auxiliar. Atente-se a esses pontos:

  • Ao sentar-se na cadeira mocho, suas coxas devem ficar paralelas ao chão, em ângulo de 90º com as pernas. Os pés devem ficar bem apoiados no piso.
  • As costas e a região renal devem ficar apoiadas no encosto do mocho odontológico, enquanto a cabeça fica levemente inclinada para baixo.
  • A posição do paciente na cadeira mocho deve permitir que a cabeça dele fique no mesmo nível dos seus joelhos.
  • Quanto à altura da cadeira, ela deve estar ajustada de forma que uma das pernas do dentista possa ser colocada sob o encosto, mas sem pressão.
  • Os cotovelos devem ser mantidos juntos ao corpo ou apoiados em um local que esteja no mesmo nível.
  • O cirurgião-dentista deve manter distância de 30 cm da boca do paciente.
  • Ao realizar trabalhos na maxila, o cabeçote deve ser posicionado para baixo; para a mandíbula, ele deve ser acomodado para cima.

Posição da cadeira do paciente

A posição correta do paciente também é essencial para minimizar os impactos a saúde do profissional. A cadeira do paciente deve ser reta e simples, permitindo que o paciente seja confortavelmente instalado na posição horizontal. Dessa maneira, ele mantém o corpo totalmente apoiado, facilitando o acesso do dentista ao campo de trabalho.

Além disso, o apoio de cabeça deve ser ajustável, propiciando a visão direta a todos os segmentos da cavidade oral, seja na mandíbula ou na maxila, na distância correta de visibilidade.

Tamanho e disposição do consultório

A área total do consultório de um dentista não deve ter mais que três metros de largura para não ser ante ergonômico. Nessa área devem estar considerados as pias e armários fixos, sendo que as gavetas, quando abertas, devem estar dentro de um círculo de 1,5m de raio.

Já a área útil de trabalho, que é o espaço máximo de pega, que pode ser alcançado com o movimento de esticar o braço, não deve ser maior do que 1m de raio.

Iluminação

Se há algo que é fundamental para que os profissionais da odontologia façam um bom trabalho é a iluminação. Ela está presente nas normas de ergonomia NR 17 e interfere diretamente na produtividade. Caso você esteja se perguntando como a luz poderia estar associada às dores nas costas, é simples: se a iluminação está precária, o cirurgião-dentista precisará se movimentar para encontrar um ponto bom de visão — e ele nem sempre vai ser ergonômico ou confortável. Quando o ambiente tem uma iluminação adequada, ele pode manter uma boa postura e trabalhar tranquilamente, sem qualquer incômodo causado por sombras.

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